Igreja de Santo António e Capela das Onze Mil Virgens


O convento de Santo António, franciscano, foi fundado em 1524 por D. Violante Henriques, viúva de Fernão Martins de Mascarenhas, alcaide-mor de Alcácer e de Mértola e capitão dos ginetes de D. João II. Construído fora das muralhas, junto ao rossio alto, a igreja conventual é de uma só nave, com capela-mor e sacristia. O acesso ao templo faz-se por uma larga galilé, em que se destacam duas elegantes colunas, suportando um teto de madeira com arcadas de volta perfeita que dão para o exterior. O portal principal fica, assim protegido. Ostenta pilastras decoradas com baixos-relevos de delicados grotescos talhados em mármore. No interior dois painéis de azulejos, o da esquerda sobre S. Francisco e o da direita relativo a um milagre de Santo António.

D. Pedro de Mascarenhas, 3.º filho da fundadora, embaixador em Itália e vice-rei da Índia, onde morreu em 1556, escolheu esta igreja, ligada à sua família, para aí edificar o seu panteão, adossando-lhe por isso uma nova capela, conhecida como a capela das Onze Mil Virgens.

Para junto do túmulo de D. Pedro seriam trasladados os restos mortais da sua primeira esposa, bem como os de D. Helena de Mascarenhas, sua segunda mulher, responsável pela conclusão do edifício.

Destaca-se nesta capela um altar, onde estão guardadas importantes relíquias trazidas pelo embaixador. Entre os objetos encontra-se a cabeça de Santa Responsa, uma das Onze Mil Virgens, um pelo da barba de Cristo, um retalho da sua túnica, partículas do Santo Lenho, um dos 30 dinheiros e gotas do leite da Virgem. Mas o seu centro é o espaço funerário, de planta quadrangular, encimado por uma cúpula semi-esférica em mármore. A pedra é muito fina, translúcida, parecendo, na hora do poente, coberta de fogo, fazendo-se desdobrar em jogos de cor na geometria das formas esculpidas. Tem-se discutido quem foi o nome do autor da traça do edifício, desde António Rodrigues a outros. Mas, tudo aponta para a autoria de Francisco da Holanda que viajou pela Itália, absorvendo as influências da arquitetura italiana, tendo privado com muitos artistas como Miguel Ângelo. A igreja é considerada, justamente, uma das joias do Renascimento em Portugal, pelas linhas arquitetónicas, pelo vocabulário da tratadística serliana, pelo rigor da geometria tanto decorativa como estrutural, pela riqueza dos mármores, o despojamento do portal e sobretudo pela cúpula. Em tudo se evidencia a aplicação cuidada da “arte ao romano”.