Santuário do Senhor dos Mártires


O Santuário de Santa Maria dos Mártires, hoje conhecido como santuário do Senhor dos Mártires, situado fora da vila, ao Poente, foi edificado num espaço que desde a Idade do Ferro servia de local de enterramento. O nome de “Mártires” aparece ligado à memória do enterramento dos cruzados que tombaram em combate durante o cerco e conquista de Alcácer aos mouros. Uma memória martirológica que a Ordem de Santiago fez questão de perpetuar.

Uma das Cantigas de Santa Maria do Rei Afonso X (compilação de poemas em louvor da Virgem de finais do século XIII), intitulada A que as Portas do céu abriu para nos salvar – narra um milagre que aconteceu, precisamente em Alcácer em Santa Maria dos Mártires.

As construções do santuário iniciaram-se no século XIII pelos Cavaleiros Espatários, na altura da reconquista. Foram depois ampliadas e engrandecidas no século XIV e transformadas desde o século XVI. O templo é, por isso, resultante de um conjunto de construções cristãs isoladas que se foram agregando:

A capela do Tesouro, a mais antiga, talvez seja ainda do século XII ou de inícios da centúria seguinte. Destaca-se também a Capela dos Mestres, que foi mandada edificar pelo Mestre Garcia Peres, em 1333, em louvor de Deus, da Virgem Maria e de S. Bartolomeu. Este foi o local escolhido para a sepultura deste mestre, bem como do seu antecessor Pedro Escacho, conforme se lê aí numa inscrição em pedra. As visitações, no entanto, referem estarem nela sepultados os quatro primeiros mestres portugueses da Ordem de Santiago. Trata-se de uma capela gótica, de planta centrada, octogonal, coberta por uma abóbada estrelada e com altas janelas maineladas de arco quebrado, de onde desapareceram todos os vitrais. Uma escada em caracol dá acesso ao terraço oitavado que a encima e de onde se desfruta um vasto panorama da envolvente do templo. Uma outra capela, também gótica, sobre a qual mais tarde viria a assentar a torre sineira, foi construída por Martins Gomes Leitão [da Parada], em 1402, como uma inscrição testemunha, mas que desapareceu. Nos anos trinta do século XV, Maria Resende, viúva do Comendador Diogo Pereira, aio do Infante D. João, Mestre Espatário, mandou edificar nos Mártires outra capela, destinada a albergar o túmulo do seu marido, e cujo portal gótico abre diretamente para a igreja, o que nos prova estar, já na altura, construído o corpo do templo que agregou as várias capelas.

Nas paredes laterais da nave da igreja são descritas, em 1513, algumas pinturas a fresco de que Vergilio Correia refere ter descoberto alguns restos, aquando dos seus trabalhos nos Mártires.

O alpendre renascentista, a poente, possui arcos assentes em sóbrios e robustos pilares. Era aqui, num nicho e sobre um pedestal que, no início do século XVI, se oferecia à devoção dos fiéis a imagem tardo-medieval de Nossa Senhora da Cinta que sorri para os fiéis. Tem em baixo a figura de um doador ajoelhado pertencente à Ordem de Santiago. Hoje, a escultura está no interior do templo, mas continua a ser motivo de uma especial veneração, principalmente das mulheres antes de serem mães.

O nome mudou de Santa Maria para Senhor dos Mártires por causa de um grande Cristo Crucificado que nos finais do século XV, inícios do XVI, foi oferecido a este santuário.

Nas grandes festas congregava muito povo, tendo dois grandes adros. Era um importante local de devoção, com casas onde descansavam os peregrinos, inserindo-se nos Caminhos de Santiago.